Nº 11 - agosto 2016

Claudino Ferreira, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais

Paula Abreu Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais

Paula Guerra Universidade do Porto, Faculdade de Letras e Instituto de Sociologia, Porto, Portugal

Vera Borges DINÂMIA´CET, Instituto Universitário de Lisboa

Editorial

O presente volume da SOCIOLOGIA ONLINE reúne um conjunto de textos que resultaram do encontro temático “On/Off: navegando pelas culturas digitais”, organizado pela Seção Temática Arte, Cultura e Comunicação, com a colaboração da Secção Temática Conhecimento, Ciência e Tecnologia, em 26 de novembro de 2015 na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O encontro reuniu uma série de investigadores/as, sobretudo jovens investigadores/as, que vêm desenvolvendo reflexão e pesquisa inovadora sobre um domínio temático de incontornável atualidade e cujos contornos se revelam decisivos para a própria renovação teórica e metodológica da sociologia das artes, da cultura e da comunicação: o domínio das ‘culturas digitais’ e das práticas artísticas, culturais, comunicacionais e cívicas que operam com as tecnologias e os meios digitais. O debate suscitado questionou a natureza específica dos meios digitais enquanto contextos de criação, produção, circulação, partilha e receção de formas e conteúdos artísticos, culturais, comunicacionais e políticos. Permitiu, igualmente, problematizar os efeitos que o uso das tecnologias digitais exerce sobre o modo como as artes, a cultura e a comunicação moldam a relação das pessoas com o mundo contemporâneo, assim como as transformações que a chamada ‘sociedade em rede’ vem operando nas formas de envolvimento e participação cultural, cívica e política.

Os textos incluídos nesta edição são exemplares dos desafios teóricos, metodológicos e analíticos que o tema suscita à sociologia da arte, da cultura e da comunicação contemporânea. São também demonstrativos da forma estimulante e inovadora como a comunidade de sociólogos/as e cientistas sociais portugueses/as vem respondendo a esses desafios.

No primeiro texto, Marluci Menezes, Carlos Smaniotto Costa e Konstantinos Ioannidis questionam-se sobre as potencialidades das tecnologias da comunicação e informação (TIC) para o desenvolvimento de formas participativas de conhecimento e intervenção sobre o espaço público urbano. Apresentando os resultados de uma pesquisa realizada em várias cidades europeias, o texto explora o potencial analítico de uma estratégia de pesquisa interdisciplinar e de cariz interventivo, onde as fronteiras entre análise, experimentação e intervenção se diluem para abrir um terreno muito rico para a observação das dinâmicas de perceção, uso e planificação do espaço público urbano. Essa observação permite aos autores discutir também a necessidade de repensar as formas dominantes de desenho e planeamento do espaço público urbano, perspetivando os contributos que as TIC podem dar para conferir a essas práticas um carácter mais participativo e, portanto, democrático.

Filipe Teixeira Portela coloca-se também no cruzamento entre cultura, política e universo digital, questionando as formas de mobilização e participação cidadã ativadas através das redes sociais digitais. Tomando o contexto português como referência principal, mas dialogando com outras situações recentes de mobilização política e cívica à escala internacional, o autor pondera as características específicas da ação cidadã mediada pelas tecnologias e as redes sociais digitais. Reconhecendo que as redes sociais digitais representam importantes meios de participação cívica e política na atualidade, problematiza as transformações que essa forma de envolvimento cidadão acarreta, em múltiplos planos: ético, político, cultural, cívico, de eficácia e alcance da ação política.

José Pedro Arruda aborda um tema há muito desafiante para a sociologia da cultura e da comunicação: a complexidade e a ambivalência das fronteiras entre o público e o privado. Fá-lo a partir de uma análise de cariz qualitativo e de teor marcadamente antropológico da televisão, esse objeto/meio tão marcante da cultura ocidental das últimas décadas. Argumentando que a televisão, historicamente, evolui de um fenómeno público para um fenómeno privado, para se transformar finalmente num objeto onde as duas esferas de misturam e indiferenciam, o autor conduz-nos num percurso onde a ponderação das implicações culturais da tecnologia é posta a dialogar com as perceções e as experiências singulares dos atores sociais, captadas num registo qualitativo com enorme potencial heurístico.

Tânia Moreira, Pedro Quintela e Paula Guerra conduzem-nos para um outro universo cultural, o da música popular urbana e, em particular, o da cultura punk. Fazem-no para, a propósito das expressões e da história do movimento punk em Portugal, problematizarem uma tensão que hoje marca a transformação de muitos domínios culturais: a tensão entre a prática online e offline. Trabalhando privilegiadamente com os discursos e as perceções dos protagonistas, e proporcionando assim uma perceção muito vívida do modo como essa tensão é vivida e (re)interpretada pelos atores, o texto explora também as potencialidades do conceito de ‘cena musical’ para dar conta das transformações que a crescente digitalização da cultura vem operando em diferentes domínios culturais e artísticos.

Finalmente, Lina Henriques Rosálio interroga-se sobre o modo como as tecnologias da informação e da comunicação e as formas de comunicação e interrelação em rede vêm reconfigurando o campo da educação e redefinindo novas modalidades de ensino e aprendizagem. Com base num estudo exploratório, a autora reflete em particular sobre o ensino à distância. Procura ilustrar e analisar as potencialidades, mas também os dilemas e as tensões suscitadas por formas de aprendizagem que, como o ensino à distância, são apoiadas na participação colaborativa numa comunidade virtual. A análise apresentada abre ao mesmo tempo um conjunto de importantes pistas sobre as especificidades dos processos de aprendizagem mediados pelas TIC e agilizadas através do ciberespaço, assim como sobre a natureza das relações sociais e pedagógicas que se geram nos ‘contextos virtuais de aprendizagem’.

Autores: Claudino Ferreira, Paula Abreu, Paula Guerra, Vera Borges

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