N.º 31 - abril 2023
Graça Rojão
FUNÇÕES: Concetualização, Investigação, Redação do rascunho original, Redação – revisão e edição
AFILIAÇÃO: CooLabora – Intervenção Social, CRL. Rua Combatentes da Grande Guerra, 62, 6200-020 Covilhã, Portugal
E-mail: gracarojao@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8799-8912
Cristina Parente
FUNÇÕES: Metodologia, Investigação, Redação – revisão e edição
AFILIAÇÃO: Departamento de Sociologia, Instituto de Sociologia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Av. Panorâmica, s/n, 4150-574 Porto, Portugal
E-mail: cparente@letras.up.pt | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7500-7050
Caracterização da organização
Criação e evolução
Tabela 1 Identificação
A CooLabora (Tabela 1) é uma cooperativa de intervenção social que nasceu a partir da mobilização de um grupo de profissionais com experiência em organizações ligadas ao desenvolvimento local, que decidiram criar uma iniciativa autónoma, centrada num território específico, isto é, na Covilhã e os concelhos limítrofes, onde pudessem pôr em prática um conjunto de valores partilhados e intervir com independência face aos partidos políticos.
Entre os princípios mais marcantes e presentes desde o início, está a colaboração, ou seja, o trabalho com outras redes e organizações, no sentido de um fazer colectivo, pelo seu potencial transformador e de aprendizagem conjunta.
A democracia e a participação são também princípios fundadores axiais e traduzem-se em práticas quotidianas de trabalho com as pessoas (e não para as pessoas), por exemplo nas assembleias de rua num bairro social ou nos grupos de escrita autobiográfica com sobreviventes de violência, que visam o empoderamento destas mulheres.
A defesa da igualdade de oportunidades, nomeadamente entre mulheres e homens é também estrutural na CooLabora, tal como a promoção da coesão social e a procura de soluções que sejam simultaneamente colectivas, solidárias e ecológicas.
Missão e objectivos
A CooLabora definiu como missão “contribuir para o desenvolvimento das pessoas, das organizações e do território, através de estratégias inovadoras e solidárias de promoção da igualdade de oportunidades, aprofundamento da democracia e da participação cívica, aprendizagem colaborativa e coesão social” (CooLabora, s.d.a., para. 1).
Procura responder às demandas do território onde está enraizada com uma acção estruturada em torno de três eixos: a promoção da igualdade entre mulheres e homens e o combate à violência doméstica e de género; o trabalho com pessoas em situação de particular vulnerabilidade e a experimentação de alternativas societais (CooLabora, s.d.b).
Atividades
A atuação da CooLabora estrutura-se em três grandes áreas de atividades, concretizadas através de projetos:
i) Igualdade entre mulheres e homens e combate à violência doméstica e de género
A igualdade entre mulheres e homens é uma das preocupações centrais da CooLabora já que esta é também a desigualdade mais estrutural que atravessa a nossa sociedade. Tem por isso uma posição activista, que se reflecte na organização de debates cívicos, acções de sensibilização da comunidade, mais incisiva junto do público escolar, campanhas etc., nomeadamente através do projeto “CUIDAdania – Cuidado e cidadania na construção da igualdade”, junto das escolas, financiado no âmbito do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE).
Na área da violência doméstica e contra as mulheres, a CooLabora coordena a “Estratégia de Territorialização para Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género” da Cova da Beira, desde 2010, e com o apoio de vários programas ao longo do tempo (atualmente POISE), tem um “Gabinete de Apoio a Vítimas” com pontos de atendimento a vítimas de violência doméstica em Belmonte e na Covilhã (pessoas adultas e crianças) e no Fundão (crianças), cujo acesso é gratuito e confidencial. Através do projeto “Rasgar Silêncios”, com o financiamento do programa Cidadãos Ativ@s, realiza oficinas de escrita autobiográfica para mulheres sobreviventes de crimes de violência doméstica, orientadas para o seu empoderamento.
ii) Iniciativas com pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade
Uma das preocupações centrais da CooLabora reside no combate a situações de injustiça social e na implementação de soluções que possam contribuir para uma sociedade mais solidária e coesa. Nesse sentido, tem uma acção mais incisiva junto de grupos sociais e de pessoas em situação de particular vulnerabilidade, como, por exemplo, comunidades ciganas, crianças e jovens de meios socioeconómicos mais desfavorecidos e com uma relação dificíl com a escola e pessoas em situação de pobreza e com dificuldades em responderem às suas necessidades básicas. Neste âmbito é entidade de gestão do “Projeto Quero Ser Mais E8G”, orientado para crianças e jovens em risco, e financiado pelo Programa Escolhas, é uma das duas entidades executoras do “CLDS.4G Covilhã”, é promotora do projeto “Coolaboratório”, orientado para a capacitação cívica dos jovens, financiado no âmbito do programa Cidadãos Ativ@s,
iii) Alternativas Societais
A CooLabora procura conhecer, divulgar e promover alternativas de base local que contribuam para uma maior justiça social, para a sustentabilidade ecológica e para o aprofundamento da democracia numa perspetiva de economia solidária.
Neste campo, promove debates cívicos, apoia iniciativas solidárias e relações económicas orientadas para o aumento do bem-estar colectivo e para a criação de maior autonomia económica local, nomeadamente, através do “Troca a Tod@s”, uma iniciativa que inclui a realização de feiras de trocas com uma moeda social (TEAR) e uma loja de produtos locais. O “Troca a Tod@s” assenta num grupo de prossumidores/as que trocam entre si produtos, serviços e saberes de forma direta ou através da sua moeda social. Funciona em feiras trimestrais que envolvem cerca de 35 prossumidores/as e 800 visitantes e, ainda, um grupo de Facebook com 450 membros.
A CooLabora é também parceira em projetos como o “EDxperimentar”, de desenvolvimento para a cidadania junto das escolas e do “EcoVida”, um roteiro para o consumo sustentável.
Dimensão da organização
A CooLabora tem 17 cooperadores/as e 10 trabalhadores/as a tempo inteiro, 50% dos quais são cooperadores/as.
O número de pessoas voluntárias é muito variável. Se antes da pandemia havia um grupo com cerca de 45 membros que semanalmente faziam actividades em escolas, a pandemia levou à suspensão dessas actividades. Só a partir de Fevereiro de 2022 é que este voluntariado se começou a reorganizar, agora mais ligado à defesa dos direitos humanos, envolvendo actualmente cerca de 15 jovens.
Em termos de participantes regulares, embora o número não seja de quantificação fácil, anualmente realiza acções em escolas para cerca de 350 alunos/as; formações para 45 docentes; apoia 120 novos casos de violência doméstica, que se traduzem em cerca de 400 atendimentos e trabalha com cerca de 20 sobreviventes de violência em oficinas de escrita autobiográfica. No trabalho com os bairros sociais estarão envolvidas em assembleias de rua e trabalho comunitário cerca de 100 pessoas, maioritariamente de etnia cigana. No trabalho com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade e/ou de abandono escolar participam regularmente cerca de 40 crianças e adolescentes. O grupo de produtores locais, nomeadamente participante nas feiras de trocas e na loja Troca-a-Tod@s envolve cerca de 35 pessoas.
Estrutura de receitas
O financiamento da CooLabora provém em cerca de 85% de projectos, sejam eles financiados pela União Europeia e Estado Português (especialmente as linhas do POISE, geridas pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género ou pelo Alto Comissariado para as Migrações), pelo Instituto Camões ou por fundações privadas, como é o caso do EEA Grants geridos pela Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Bissaya Barreto, no âmbito do programa Cidadãos Activ@s.
Cerca de 10% do financiamento provém da prestação de serviços a outras entidades (por exemplo, consultoria e formação). Os 5% restantes provêm de donativos de particulares e da consignação do IRS.
Verifica-se, assim, em termos de financiamento, uma dependência significativa de financiamentos pontuais, provenientes de uma variedade de fontes públicas e privadas. Esta lógica de financiamento por projeto permite, por um lado, uma significativa flexibilidade e capacidade de inovação, adaptando as respostas às necessidades dos territórios, orientando-se para públicos e problemas sociais que não estão cobertos por uma atuação sistemática do Estado-Providência, por outro, suscita um contexto de incerteza permanente, onde a curta duração associada aos projetos coloca em causa a sustentabilidade das intervenções e da organização. É assim que se verifica, em várias áreas de atuação, que a CooLabora tem tentado manter as suas respostas, por exemplo, na área da violência doméstica, recorrendo a diversas fontes de financiamento por projeto ao longo do tempo.
No que se refere aos donativos em espécie, estes assumem um peso significativo, pois a CooLabora beneficia de instalações cedidas gratuitamente. O espaço da sede é propriedade da Câmara Municipal da Covilhã, tal como o espaço no bairro social do Cabeço. O apoio a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade funciona numa escola primária no Tortosendo, cujas instalações são cedidas pela autarquia e os espaços de atendimento a crianças vítimas de violência doméstica em Belmonte e Fundão são também cedidos por entidades locais.
Liderança e tomada de decisões e modelo de gestão
A CooLabora tem órgãos sociais como a assembleia geral, a direcção e o conselho fiscal que funcionam de acordo com a legislação em vigor. As orientações estratégicas sobretudo relativas aos planos de acção anuais são discutidas no contexto das assembleias gerais, tal como os relatórios de actividades e contas.
As decisões financeiras mais pesadas, nomeadamente relativas a eventuais empréstimos junto da banca, obras, aquisições de equipamento de montante significativo são tomadas pela direcção.
Existe ainda uma comissão executiva composta por três membros que trata das decisões mais correntes e que frequentemente resultam de imposições legais burocráticas: procedimentos de contratação pública, contratação de pessoas, etc.
As decisões operacionais relativas à execução dos projectos e as decisões transversais são tomadas em reunião geral de equipa, que reúne quinzenalmente (semanalmente durante os confinamentos), com uma ordem de trabalhos criada colectivamente.
A informação relevante para toda a equipa está disponível numa pasta online.
Redes e parcerias
A CooLabora assume o trabalho em redes e parcerias como um aspecto estratégico na sua acção.
Redes nacionais em que participa: Animar – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local; EAPN – Rede Europeia Anti Pobreza; Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres; Rede Sinergias ED.
Redes locais e regionais: Conselho da Comunidade do Agrupamento dos Centros de Saúde da Cova da Beira (ACeS); Conselho Consultivo da Escola Profissional de Artes da Beira Interior; Conselho Consultivo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade da Beira Interior; Conselho Geral do Agrupamento de Escolas a Lã e a Neve; Conselho Local de Acção Social/Rede Social da Covilhã; Conselho Municipal de Segurança da Covilhã; Núcleo Executivo da Rede Social da Covilhã
Parcerias de projectos: em todos os projectos da CooLabora há uma forte presença de redes e parcerias, nalguns casos, como, por exemplo, no da rede “Violência Zero”, participam mais de duas dezenas de entidades. Embora não esteja actualizado, o mapa relacional está disponível na página web da CooLabora (s.d.c).
Impacto da pandemia
Efeitos nos públicos/beneficiários/associados
A pandemia agudizou os problemas que já existiam. Criou uma maior necessidade de apoio por parte de pessoas em situação de vulnerabilidade, que devido à precariedade das suas condições de vida, por exemplo fraca qualidade habitacional, trabalhos remunerados precários, dependência das vendas em mercados e feiras, etc. viram os seus rendimentos cair.
As vítimas de violência ficaram mais isoladas, o que foi especialmente grave nos casos em que ainda mantinham coabitação com o/a agressor/a.
As crianças e jovens sem acesso a computadores ou smartphones tiveram muita dificuldade em acompanhar as actividades escolares.
Os pequenos produtores artesanais viram a venda dos seus produtos cair a pique, com os comércios fechados e as feiras suspensas.
Efeitos na organização e na gestão
A principal alteração no funcionamento da organização resultou da passagem de actividades presenciais para o meio online. Por um lado, foi necessário realizar reuniões de equipa mais amiúde, com carácter semanal, e com uma forte componente de apoio mútuo.
Por outro lado, vieram a suceder-se videoconferências, muitas de participação obrigatória, promovidas pelos programas financiadores que procuraram incrementar o acompanhamento e a formação das equipas, o que nem sempre foi compatível com a urgência em dar resposta às situações muito problemáticas que surgiam do terreno.
Manteve-se até agora a possibilidade de reuniões de equipa através do Zoom sempre que alguém está em confinamento (e os casos sucederam-se) e a participação por videoconferência em reuniões que exigem grandes deslocações.
Manteve-se ainda a loja física de produtos locais, criada durante a pandemia dentro do espaço da CooLabora.
A pandemia não teve um efeito significativo nos recursos da organização, com exceção da prestação de serviços, cujas receitas diminuíram por efeitos de atividades suspensas, mas tal não trouxe dificuldades financeiras significativas. As entidades financiadoras mantiveram uma grande proximidade em relação à organização e flexibilidade relativamente às necessidades de adaptação.
Também se verificou uma diminuição do número de voluntários de 45 para 15 dada a suspensão de muitas atividades, em especial relacionadas com as escolas.
Atividades desenvolvidas para fazer face à crise pandémica
A pandemia agudizou muitas das necessidades dos públicos directos. No caso das vítimas de violência doméstica, embora a resposta tenha permanecido em funcionamento presencial para situações urgentes, numa primeira fase o número de atendimentos presenciais caiu drasticamente e muito do trabalho passou a ser feito por telefone e por videoconferência. Numa segunda fase houve um incremento da procura, seja devido ao surgimento de novos casos seja também por parte de ex-vítimas que já não estavam em acompanhamento, mas que sentiram necessidade de voltar a ter um espaço de apoio psicológico.
As oficinas de escrita autobiográfica com sobreviventes de violência passaram para o regime online mas constatou-se que a interacção e a partilha necessárias não eram facilmente compatíveis com este meio, pelo que foram suspensas.
As acções de formação, nomeadamente sobre igualdade de género para docentes e sobre violência doméstica para juristas e para as forças de segurança passaram a ser feitas online, no Zoom. Embora tenha havido um maior número de pessoas participantes e globalmente o resultado seja positivo, a interacção foi claramente prejudicada e a atenção face a cada sessão revelou-se mais dispersa.
Algumas das maiores dificuldades foram sentidas por pessoas que já partiam de uma situação de grande fragilidade, nomeadamente a comunidade cigana. A suspensão da venda em feiras e da venda ambulante amputou estas famílias de uma fonte de rendimento importante. A CooLabora, através da equipa que trabalho no bairro social do Cabeço procurou incrementar o apoio especialmente em questões burocráticas, como a elaboração de requerimentos, relativos ao adiamento ou dispensa de pagamento de facturas em atraso (renda das casas de habitação social, água e eletricidade, etc.), seja a necessidade de apoio alimentar de emergência. A equipa fez a ponte entre a comunidade e os organismos do Estado Social e de caridade, especialmente porque o nível de literacia é muito baixo.
Um outro grupo que enfrentou grandes dificuldades foram as crianças e adolescentes em situação de pobreza que já estavam a ser acompanhados no âmbito do programa Escolhas no sentido da promoção do seu sucesso escolar. O facto de não possuírem computador ou smartphones que permitissem acompanhar as aulas online reforçou a sua situação de exclusão. A solução inicialmente encontrada passou pela negociação com a escola e com outras organizações da comunidade no sentido de ser feito um acompanhamento mais próximo a estas crianças. A equipa passou a recolher semanalmente na escola fichas de trabalho para os/as alunos/as realizarem, fazendo as respectivas fotocópias, de acordo com o número de crianças em cada ciclo. A Guarda Nacional Republicana por seu lado, fazia a respectiva distribuição porta-a-porta às 90 crianças e jovens sem equipamento informático e a equipa do projecto passou a fazer a sua recolha e entrega na escola. Assim que foi possível, isto é, com a suspensão do confinamento obrigatório, uma vez que as crianças estavam com grandes dificuldades em acompanhar a escola, foi criada no bairro social do Cabeço a actividade “Escola na Rua”: sempre que as condições atmosféricas o permitiam, era improvisada na rua uma escola, com mesas e cadeiras e a equipa do projecto passou a ajudar as crianças nos seus trabalhos escolares, de forma a atenuar o distanciamento face aos alunos e às alunas que conseguiram continuar a acompanhar as aulas online e também para reduzir as consequências do isolamento.
Uma outra medida criada durante a pandemia com o grupo Troca-a-Tod@s, dada a impossibilidade de realização de feiras presenciais que são muito importantes para os pequenos produtores, foi a criação de uma loja dentro do espaço da CooLabora, destinada a apoiar a comercialização destes produtos. Foi também criada uma montra online na página da Coolabora, com mostra dos produtos de alguns produtores e dos seus contactos.
Efeito no trabalho e nos trabalhadores
Para a CooLabora houve simultaneamente uma grande aprendizagem relativa a ferramentas de comunicação a distância, muitas das quais continuarão a ser usadas no pós-pandemia porque facilitam a comunicação com pessoas e grupos que estão fisicamente muito distantes, mantendo alguma interacção complementar aos encontros presenciais. Por outro lado, foi também evidente que a presença física é fundamental no trabalho com as pessoas e não pode ser substituída.
Ficaram ainda algumas ferramentas que facilitam o trabalho colaborativo e que continuarão a ser usadas pela equipa, como, por exemplo a utilização prioritária da “nuvem” para partilha de documentos e a comunicação via Messenger ou WhatsApp.
Balanço acerca dos desafios colocados
A pandemia evidenciou que as pessoas que já vivem uma situação de fragilidade são também aquelas que são mais afectadas por crises desta natureza. Tornou também muito evidente a importância de existirem respostas públicas ao nível de sectores, como por exemplo, a saúde, e a segurança social, pois ainda que não tenham sido resolvidos problemas estruturais, permitiram atenuar fortemente as consequências da crise.
A pandemia mostrou como as pessoas se podem mobilizar de forma solidária em situações adversas, mostrando que não são as lógicas individualistas que permite enfrentar crises colectivas. Foi notório um espírito mais solidário e de predisposição para a entreajuda no seio das comunidades.
A CooLabora demonstrou uma significativa capacidade de adaptação da sua atuação e de resposta aos desafios múltiplos que surgiram com a diversidade dos seus públicos e problemas em que atua. Assim, em complementaridade com as adaptações das respostas públicas no sector da segurança social e educação, desenvolveu novas atividades que procuraram minimizar o impacto da desigualdade no acesso a estas respostas, apoiando em processos burocráticos para moratórias de dividas, acesso a apoio alimentar de emergência, acompanhamento de crianças sem acesso a aulas online e apoio ao estudo.
A CooLabora e o cuidado
A pandemia tornou mais visível a importância do trabalho das organizações sociais e o seu contributo para o bem-estar colectivo. Mostrou como o cuidado faz parte da nossa condição humana e como somos seres interdependentes. Sem os laços de solidariedade que foram criados durante a pandemia, o sofrimento de pessoas em situação de maior vulnerabilidade teria certamente sido maior.
Mostrou também como todo o trabalho dito reprodutivo, isto é, o trabalho que se ocupa da reprodução da vida, como os cuidados ou o trabalho doméstico, têm um valor sem paralelo no seu reconhecimento social. Este trabalho nunca pôde parar ou abrandar porque foi e é fundamental para assegurar a sustentabilidade da vida. Torna-se, assim, mais visível, a necessidade de uma concepção de trabalho ampla, que reconheça também o trabalho não-pago. Paralelamente, é importante reconhecer uma concepção de economia que englobe todas as actividades de provisão de bens e serviços (não apenas as mercantis) e que valorize o trabalho de cuidado das pessoas e dos ecossistemas.
As experiências locais, embora possam ter uma capacidade de resposta limitada e não substituam aquilo que são, ou deveriam ser responsabilidades públicas, constituem um espaço de experimentação e de fermentação de outros modos de organização da vida colectiva, criam possibilidades de agir no concreto do “aqui e agora” e de construção de soluções contextualizadas. Mostram, também, que o cuidado não pode ser visto como uma responsabilidade privada, das famílias (e dentro destas das mulheres). A sua relevância exige que seja assumido pelo Estado, pelas comunidades e por todos as pessoas que os podem assegurar.
Referências
CooLabora. (s.d.a). Sobre – Missão e Objetivos. Consultado em maio de 2022, de https://coolabora.pt/sobre/missao-e-objectivos/
CooLabora. (s.d.b). Sobre – Áreas de Intervenção. Consultado em maio de 2022, de https://coolabora.pt/sobre/areas-de-intervencao/
CooLabora. (s.d.c). Sobre – Redes e Parcerias. Consultado em maio de 2022, de https://coolabora.pt/sobre/redes-e-parcerias/
Data de submissão: 28/02/2022 | Data de aceitação: 21/12/2022
Notas
Por decisão pessoal, as autoras do texto não escrevem segundo o novo acordo ortográfico.
Autores: Graça Rojão e Cristina Parente