Nº 9 - maio 2015
Os docentes do Laboratório de Ética e Profissão em Sociologia (LEPS)
António Firmino da Costa, Rosário Mauritti, Luísa Veloso
Editorial
O presente número de SOCIOLOGIA ON LINE, publicação da Associação Portuguesa de Sociologia, propõe um conjunto de textos que resultam de atividades desenvolvidas no quadro do Laboratório de Ética e Profissão em Sociologia, da licenciatura em Sociologia do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
O Laboratório de Ética e Profissão em Sociologia (LEPS), anteriormente designado Práticas Profissionais em Sociologia, foi criado com o objetivo de colocar os alunos em contacto direto com sociólogos inseridos em áreas de atividade diversificadas, proporcionando-lhes o conhecimento concreto da multiplicidade de papéis profissionais que os sociólogos desempenham, enquadrando analiticamente esse exercício na problemática da profissionalização da sociologia. Nesse sentido, desde 1994, os alunos da Licenciatura em Sociologia do ISCTE têm desenvolvido trabalhos de pesquisa empírica teoricamente enformada focados nas atividades e experiências profissionais de índole diversa desenvolvidas por diplomados em sociologia. Essa diversidade, quer em termos de perfis profissionais, quer de contextos institucionais, extravasa de forma notória o contexto universitário. Este último constituiu, como se sabe, o quadro institucional nuclear do desenvolvimento da sociologia em Portugal – a exemplo, aliás, do que ocorreu na generalidade dos países. Mas já não é o âmbito de profissionalização da maioria dos sociólogos. O mesmo se passa, de resto, em muitas outras áreas de formação universitária. Na sociologia, concretamente, tem vindo a verificar-se uma diversificação muito alargada dos contextos, modalidades e conteúdos de trabalho, sendo de sublinhar as potencialidades de integração dos sociólogos num vasto conjunto de domínios de atividade profissional.
Os exercícios que os alunos desenvolvem no quadro do referido Laboratório têm como pedra angular o conhecimento de perfis e atividades de sociólogos cujo desempenho profissional tem lugar em contextos menos conhecidos desses estudantes do que aqueles com que contactam diariamente no decurso da sua formação: o ensino universitário e a investigação científica. Com este requisito, visa-se dar a conhecer aos alunos, futuros profissionais, a diversidade e riqueza das inserções no mercado de trabalho de pessoas com formação em sociologia. Visa-se, igualmente, promover a análise assente em informação concreta e o debate reflexivo teoricamente fundamentado em torno das relações entre formação universitária e profissionalização qualificada, da configuração do campo profissional dos sociólogos e dos contornos da sua transformação ao longo do tempo. Nesta abordagem estão também em foco questões ligadas ao associativismo profissional e aos desafios éticos colocados em diferentes situações de exercício da atividade profissional por parte dos diplomados na área.
Em 2014, percebendo a relevância do conhecimento acumulado para a compreensão dos processos de profissionalização dos sociólogos em Portugal por via das análises realizadas pelos alunos, os docentes deste Laboratório decidiram promover, em colaboração com a Associação Portuguesa de Sociologia, um evento público de apresentação de vários desses trabalhos, num seminário que teve lugar no dia 22 de março. Vários desses trabalhos integram a presente publicação. Ela espelha a riqueza das análises e reflexões desenvolvidas, constituindo também uma evidência da pluralidade de papéis profissionais que os sociólogos assumem.
Adriana Albuquerque detém-se sobre as condições de exercício profissional da sociologia com base em quatro casos distintos associados aos perfis sociológicos “rotinizado” e “latente”, em estreita articulação com a cultura e a trajetória profissionais. A análise avança uma teorização inovadora da noção de “sensibilidade sociológica”. Já Maria Teresa Melo detém-se numa análise focada num professor do ensino secundário com formação em sociologia e traça o seu perfil profissional e a relação que este verbaliza com a formação académica em estreita articulação com o papel que esta última – pensada sob o triplo enfoque de ciência, ensino e profissão – desempenha para o exercício da cidadania. Inês Tavares desenvolve um argumento em torno da relação entre a formação em sociologia e o desempenho de cargos políticos. A análise assenta na realização de quatro entrevistas a sociólogos que assumem ou assumiram funções de cariz político de distintos quadrantes partidários, evidenciando diferentes discursos e práticas, mas comungando da afirmação, com diversas configurações, da influência da formação académica no domínio político. Sandra Andrade detém-se sobre as políticas de seleção e recrutamento, propondo, com base numa análise de três entrevistas, uma reflexão sobre o que se entende pelo “candidato ideal” e em que pressupostos a sociologia assenta para cumprir com os requisitos exigidos para desempenhar um conjunto de funções. Numa estreita articulação entre a formação e o acesso ao mercado de trabalho, esta análise foca os procedimentos de integração profissional atendendo à mediação realizada pelos processos de recrutamento e seleção e à forma como estes encerram determinados pressupostos em termos de conhecimentos e competências. Bruno Oliveira e Carlos Levezinho desenvolvem um estudo baseado em sete entrevistas realizadas a indivíduos que exercem funções nos setores público e privado, destacando a articulação entre práticas e representações do exercício profissional, assim como o enfoque da sociologia em preocupações sociais, na ótica da “sociologia pública”. João Mineiro elabora uma reflexão sobre a articulação entre a ciência e a profissão na sociologia e propõe três teses neste domínio focando a empregabilidade dos sociólogos e discutindo este conceito. Inês Maia propõe, com base na análise de cinco entrevistas, uma perspetiva sobre a profissionalização dos sociólogos em torno de três eixos: a cultura e identidade profissional; a relação entre a formação académica e o exercício profissional; e o associativismo, ativismo e as responsabilidades sociais dos sociólogos. Leonor Castelo apresenta uma análise focada na formação das identidades profissionais e seus impactos no exercício profissional, a par de uma reflexão sobre o percurso histórico da profissionalização da sociologia em Portugal. Também Luís Quaresma reflete, com base em duas entrevistas, sobre a profissionalização dos sociólogos, enfatizando a relação entre ciência, formação e profissão e desenvolvendo a ideia da existência de um ethos da prática sociológica. Finalmente, a publicação termina com a reflexão de Andreia Melo, que se debruça sobre o exercício profissional no domínio particular do setor imobiliário, focando, nomeadamente, as competências exigidas e os contributos da formação em sociologia neste domínio de exercício profissional.
A diversidade de abordagens e a riqueza do trabalho empírico patente nestas análises espelham de forma notável o desenvolvimento da sociologia em Portugal e os múltiplos e diversificados processos de articulação entre formação universitária e esfera profissional.
Esperamos com esta publicação contribuir para o debate sobre os processos de profissionalização dos sociólogos em Portugal e que ela permita prosseguir a reflexão sobre a diversidade de perfis profissionais que são potenciados pela formação em sociologia, em espaços diversos e heterogéneos no mercado de trabalho.
Terminamos com uma palavra de agradecimento à Associação Portuguesa de Sociologia, em particular à sua Presidente, Professora Doutora Ana Maria Romão, pela colaboração na organização do seminário e na publicação dos seus resultados, assim como aos alunos participantes, por terem conferido conteúdo tão relevante esta publicação.
Autores: António Firmino da Costa, Rosário Mauritti, Luísa Veloso