Nº 4 - setembro 2011

Margarida Barroso, CIES, ISCTE-IUL, Assistente de Investigação; margarida.barroso@iscte.pt

Magda Nico, CIES, ISCTE-IUL, Assistente de Investigação; magda.nico@iscte.pt

Elisabete Rodrigues, CIES, ISCTE-IUL, Assistente de Investigação; elisabete.rodrigues@iscte.pt

Abstract: The increasing sociological production concerning gender studies in the recent decades validates the association between the analyses of the evolution of scientific production in this area, with the study of the professional development of the field. This article analyses gender as a research domain in sociology and also as a structuring element of the distribution of the agents in the field, presenting a characterization of gender studies in Portugal and a sociography of the doctoral candidates and doctorates in terms of sex, age, institutional integration, associative activity and area of studies. Professional biographies of three protagonists of gender studies will also be presented as illustrative cases.

Keywords: Sociology, Gender, Science, Portugal.

Resumo: O aumento, nas últimas décadas, da produção sociológica nos estudos de género torna pertinente a associação da análise da evolução da produção científica nesta área ao estudo do desenvolvimento profissional do campo. Este artigo aborda o género como um domínio de investigação sociológica e como elemento estruturador da distribuição dos actores sociais no campo, apresentando uma caracterização dos estudos de género em Portugal e uma sociografia dos doutorandos e doutorados no que respeita ao sexo, idade, pertença institucional, actividade associativa e campo de estudos. Biografias profissionais de três protagonistas da investigação sociológica do género são também apresentadas como casos ilustrativos.

Palavras-chave: Sociologia, Género, Ciência, Portugal.

Introdução

Desde o início da década de 60 que o mercado de trabalho português tem sido caracterizado por uma elevada participação feminina. As elevadas taxas de participação das mulheres no mercado de trabalho e no ensino universitário são duas das características estruturais que distinguem Portugal de outros países europeus. O emprego feminino a tempo inteiro é, em Portugal, superior ao dos países com taxas de participação feminina mais elevadas, sendo excepção o Chipre, a Estónia e a Eslovénia (Eurostat, LFS, 2010).

No que diz respeito à educação, mais especificamente ao ensino superior, o número de mulheres que, em Portugal, conclui o ensino superior, é significativamente superior ao dos homens, em todos os grupos etários. Uma análise comparativa permite verificar igualmente que a disparidade entre homens e mulheres é substancialmente superior à média europeia e que esta é uma realidade que tem atravessado as últimas gerações (ver figura 1).

 

Figura 1. População com o ensino superior, por sexo e grupo etário, 2007


Fonte: Eurostat

Quando se observam as disparidades salariais entre homens e mulheres no mercado de trabalho português, verifica-se, à semelhança do que acontece na maioria dos países europeus, que esta tende a ser mais elevada nas ocupações mais qualificadas e, mais precisamente, entre a população com o ensino superior. No ano de 2007, a diferença nos ganhos salariais entre homens e mulheres situava-se nos 20% para a população com o ensino superior e nos 14,3% para a população com o ensino básico ou inferior (INE, 2010). As diferenças salariais em Portugal são, no entanto, baixas quando comparadas com o resto da Europa. Em 2009, a diferença salarial entre homens e mulheres situava-se nos 9,2% em Portugal, enquanto a mesma diferença na Europa era de 17,8% (Eurostat, 2010). Este dado é em grande medida indicador da segregação do mercado de trabalho português e das dificuldades de acesso às posições mais elevadas nas diferentes hierarquias profissionais por parte das mulheres.

O caso dos profissionais do ensino superior apresenta, contudo, uma diferente configuração. Ao contrário do que se verifica na distribuição global das qualificações da população portuguesa, no grupo dos professores universitários continuam a ser os homens, em média, a deter qualificações mais elevadas do que as mulheres. De acordo com dados do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (GPEARI-MCTES) apenas cerca de 40% das professoras universitárias portuguesas detinha, em 2008, o grau de doutoramento. São também os homens a ocupar predominantemente as posições superiores na hierarquia da carreira universitária. As mulheres permanecem em minoria enquanto professoras catedráticas, professoras associadas, ou professoras auxiliares, embora a sua presença em números absolutos, nestes grupos profissionais, tenha vindo a afirmar-se.

Paralelamente a esta crescente visibilidade das mulheres, tanto no ensino superior, como no mercado de trabalho, as recentes décadas de investigação sociológica em Portugal têm demonstrado o crescimento e a diversidade da produção científica na área do género, sendo que grande parte destes estudos se tem centrado precisamente nas referidas desigualdades de género presentes nas sociedades actuais. Enquanto expressão da capacidade reflexiva da disciplina, análises sociológicas direccionadas para o estudo do género dentro da própria disciplina têm dedicado, por outro lado, considerável atenção à evolução deste campo temático – a este propósito ver, por exemplo, Rodrigues (2009; Cunha (2010) e Maciel (2010). O estudo da posição relativa de mulheres e homens na sociologia portuguesa, enquanto profissionais de investigação e de ensino, tem merecido, por outro lado, menor atenção. Ao contrário do que se pode observar noutros contextos académicos, sobretudo norte-americanos – Backstone e Fulton (1975); Thompson (1980; Lamanna, Miller e Moore (1987); Goyder (1992); Jacobs (1996) e Nakhaie (2001) – onde a investigação sobre as desigualdades de género no campo profissional da sociologia e do ensino superior conta já com bastante solidez, em Portugal estes estudos são ainda reduzidos, destacando-se, no entanto, os trabalhos de referência de Almeida (1986) e Amâncio (1995).

Este artigo procura contribuir para o conhecimento da dinâmica profissional da disciplina, conjugando o género enquanto objecto de estudo sociológico e, simultaneamente, elemento de diferenciação dos/as profissionais de investigação científica. Para esse efeito, articula-se a observação de indicadores de natureza estatística sobre o desenvolvimento da actividade profissional e de investigação, com a análise de entrevistas a algumas das protagonistas dos estudos de género em Portugal.

 

Metodologia e dados

A presente análise foi suportada por três estratégias metodológicas e fontes de informação diferentes.

Em primeiro lugar, os projectos de doutoramento em Sociologia, em curso e concluídos, foram tidos como ilustrativos da investigação e formação avançada levada a cabo em Portugal. Os dados oficiais destes projectos foram recolhidos a partir dos registos do GPEARI-MCTES e organizados numa base de dados estatística. A informação recolhida refere-se a dois níveis de análise: ao nível individual (sexo e idade do doutorando/a ou doutorado/a); e ao nível do projecto, que inclui título (posteriormente recodificado por sub-campo disciplinar), instituição de ensino, orientador/a (posteriormente recodificado por sexo), e datas de início e de fim (concretos ou previstos) dos projectos de doutoramento. A informação reporta-se a todos os doutoramentos em Sociologia em curso ou concluídos em Portugal, desde 1975 até 2005. A análise foi maioritariamente descritiva e bivariada. Estes dados permitiram, por um lado, identificar o lugar relativo do género enquanto temática de pesquisa, a sua evolução e as suas tradições e afiliações institucionais e, por outro lado, averiguar a expressão quantitativa relativa das mulheres e dos homens (doutorandos/as, doutorados/as e orientadores/as) no campo da sociologia em geral, e no da sociologia do género em particular.

Uma segunda estratégia metodológica prendeu-se com a análise dos Congressos Portugueses de Sociologia, promovidos pela Associação Portuguesa de Sociologia (APS). Este acontecimento nacional foi considerado um observatório privilegiado para a análise da evolução científica do campo da sociologia, mas também um indicador ilustrativo da forma como a visibilidade pública é distribuída entre homens e mulheres. Por um lado, foi analisada a evolução das temáticas apresentadas nos painéis dedicados à sociologia do género ao longo dos Congressos de Sociologia, assim como o processo de autonomização da sociologia do género face aos restantes campos temáticos. Esta análise centrou-se não apenas nos conteúdos apresentados nas comunicações, mas também no número de comunicações com referência ao género em cada um dos congressos. Por outro lado, para compreender como o género opera enquanto elemento estruturador da distribuição dos agentes pelo campo, foram analisados os diferentes papéis que homens e mulheres têm desempenhado na organização dos congressos, nas actividades associativas da Associação Portuguesa de Sociologia e na sua estrutura organizativa. Neste caso foram contemplados para a análise alguns indicadores sociais como a composição sexual da autoria das comunicações, dos associados e membros dos painéis da associação (Direcção, Assembleia, Conselho Fiscal, Conselho Deontológico e Conselho Consultivo), e ainda a composição sexual dos Painéis de cada Congresso.

Por fim, a terceira estratégia metodológica pretendeu ilustrar estes aspectos numa perspectiva micro. Para tal, a análise foi complementada por biografias profissionais de três sociólogas portuguesas com produção científica relevante no campo da sociologia do género. Foram analisados os seus currículos, com referência aos principais produtos de investigação sociológica na área do género, como as publicações, a participação em projectos e redes de investigação e ainda a participação cívica no que se refere às desigualdades de género. Esta análise documental foi suportada por entrevistas a cada uma destas sociólogas em torno das suas vidas académicas, profissionais e científicas, e mostraram-se essenciais para a análise dos estudos de género na sociologia em Portugal, e promoção de múltiplas reflexões em torno das desigualdades de género, do ponto de vista sociológico, mas também considerando os seus testemunhos como agentes-chave do campo.

 

Género enquanto objecto de estudo sociológico

O género enquanto área temática da sociologia em Portugal tem sofrido transformações profundas que podem ser observadas através de uma análise comparativa (com outras áreas temáticas da sociologia) e diacrónica. Esta análise é levada a cabo através de duas das fontes já mencionadas: os doutoramentos em curso e concluídos, que representam os tópicos eleitos para especialização individual na sociologia; e os temas das comunicações dos Congressos Portugueses de Sociologia, que representam os projectos individuais ou colectivos com visibilidade junto dos pares.

a) Nos bastidores da sociologia do género: as teses de doutoramento

Os doutoramentos são projectos de formação avançada que se constituem enquanto arena privilegiada para a observação de dinâmicas diacrónicas e concorrenciais no interior da sociologia. Através dos dados e metodologia já apresentada, foi possível analisar o lugar relativo do género no que se pode denominar de “bastidores da sociologia”, isto é, o trabalho a solo dos actuais ou futuros investigadores doutorados.

A sociologia ocupa, nesta matéria, um lugar particular no panorama geral das ciências em Portugal. Na análise do número de doutoramentos concluídos e em curso, podemos observar que a Sociologia é uma ciência em crescimento, e que tem um lugar intermédio entre, por um lado, grande parte das chamadas “ciências exactas” (como Medicina, Biologia, Engenharia Informática e Electrónica, Química, Física e Matemática) e, por outro lado, a maioria das restantes “ciências sociais e humanas” (como a Demografia, Ciência Política, Ciências da Comunicação, Estudos Artísticos e também Antropologia). Assim, a sociologia ocupa uma posição privilegiada no que se refere à produção de teses de doutoramento face às restantes ciências sociais, mas um lugar ainda desfavorecido em comparação com as ciências ditas exactas. Este indicador reflecte a “juventude da sociologia em Portugal”, Machado (1996: 45) por comparação a outras áreas de saber.

Figura 2. Número de doutoramentos concluídos e em curso, por área científica (1975-2005)

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

A composição do universo das teses de doutoramento em sociologia caracteriza-se por um universo composto por um total de 677 doutoramentos atribuídos ou reconhecidos por Instituições de Ensino Superior Portuguesas, entre as quais 339 estão em curso e 338 estão concluídas; por 50,4% de homens e 49,6% de mulheres entre os doutorados e doutorandos; sendo as áreas de estudo mais frequentes, tendo como referência o somatório da sua ocorrência enquanto tema primário com a ocorrência enquanto tema secundário, o trabalho, organizações e profissões (12,5%), Estado e política (9,7%), educação (8,8%), família (6,1%), género (4,8%) e saúde (4,8%).

Como será ilustrado na apresentação das biografias profissionais de sociólogas em Portugal, o género, enquanto objecto de estudo, esteve inicialmente relacionado com os estudos sobre as mulheres e com as disparidades de género no que toca à família e/ou ao mercado de trabalho, sendo apenas mais recentemente operacionalizado em pesquisas centradas nos homens (como se verá na análise desenvolvida mais adiante em torno dos temas apresentados nos congressos da Associação Portuguesa de Sociologia). Por esse motivo, os estudos de género e os estudos sobre as mulheres foram codificados na mesma categoria. Se analisarmos os tópicos primários e secundários separadamente, verificamos que os estudos de género e os estudos sobre as mulheres são, juntamente com os de classes sociais, muito frequentes enquanto objecto de estudo secundário mas significativamente menos frequentes enquanto primário. Assim, o género tem-se constituído mais enquanto instrumento analítico do que enquanto objecto de estudo per se. Desta forma, os tópicos primários mais frequentes são ‘trabalho, organizações e profissões’; ‘Estado e política’, ‘educação’; ‘família’; ‘saúde’; ‘cidade e território; ‘urbanismo’; ‘sociologia do desporto’ e ‘comunicação e media’. Por sua vez, os tópicos secundários mais frequentes, muitas vezes enquanto instrumento analítico, são ‘trabalho, organizações e profissões’; ‘estudos de género’ e ‘estudos sobre as mulheres’; ‘Estado e política’; ‘educação’; ‘família’ e ‘classes sociais’. O género está, desta forma, disseminado por outros temas de pesquisa como um importante instrumento analítico transversal.

Noutra perspectiva, se observarmos a distribuição dos temas principais de pesquisa dos doutoramentos por etapa do seu desenvolvimento (em curso ou já concluído), verificamos que o género não parece ser um tópico primário em crescimento, ao contrário da ‘imigração e etnicidade’, ‘juventude ou ciência’. As restantes áreas de pesquisa apresentam alguma estabilidade percentual no universo dos doutoramentos em curso e concluídos. Tal leva-nos a confirmar que o género enquanto tema tem-se constituído mais enquanto categoria operacional (ou variável independente) do que como um conceito teórico.

Quadro 1. Doutoramentos concluídos e em curso por tópicos (primários) de pesquisa (percentagem), 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

O género tem mantido uma posição pouco significativa mas estável, do ponto de vista numérico, principalmente se tivermos em conta os crescimentos e os decréscimos quantitativos de alguns dos restantes objectos de estudo. Os crescimentos relativos mais relevantes ocorreram nos casos da ‘comunicação e media’, ‘educação, imigração e etnicidade’, ‘saúde’, ‘cultura’, ‘ciência’ e ‘juventude’. Pelo contrário, os decréscimos mais relevantes referem-se, de acordo com a figura 3, às ‘classes sociais’, ‘trabalho, Organizações e Profissões’, ‘reflexão epistemológica e teórico-metodológica’, ‘cultura popular, ‘política e Estado’, ‘estrutura e mudança social’, ‘drogas e toxicodependência’ e ‘religião’.

Figura 3. Crescimento percentual dos temas primários entre os doutoramentos concluídos e os doutoramentos em curso, 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

A composição dos protagonistas da sociologia do género é também genderizada. Assim, o campo dos estudos de género é um dos que apresenta uma sobrerepresentação das mulheres, juntamente com ‘emigração’, ‘família’, ‘saúde’ e ‘trabalho, ‘organizações e profissões’. Pelo contrário, os campos temáticos tradicionalmente marcados pela predominância de homens como ‘classes sociais’, ‘política e Estado’, ‘sociologia histórica’ e ‘estrutura e mudança social’ continuam a contar com uma sobrerepresentação masculina. Esta distribuição das problemáticas ilustra a divisão sexual da pesquisa sociológica em Portugal. Deve contudo sublinhar-se que independentemente da igual proporção dos homens e das mulheres no universo de doutoramentos, há mais áreas onde os homens estão sobrerepresentados do que áreas onde as mulheres o estejam. As áreas onde existe maior equilíbrio entre os sexos são as da ‘juventude’; ‘demografia’; ‘valores’, ‘pobreza e exclusão social’; ‘cultura’; públicos e políticas’; ‘imigração’ e ‘etnicidade’; ‘infância’ e ‘sociologia económica’.

Figura 4. Diferença percentual entre as teses desenvolvidas e em curso por homens e as teses desenvolvidas e em curso pelas mulheres, segundo o grande grupo temático, 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

b) A visibilidade pública do género na produção científica

Os programas dos congressos (seus conteúdos e protagonistas) proporcionam um mapa aproximado da produção científica nacional, uma vez que as comunicações que os constituem estão associadas ou aos projectos de investigação individuais, ou a projectos mais amplos que envolvem vários investigadores e, por vezes, várias universidades e/ou centros de investigação, Lobo (1996).

Entre 1988 e 2008, e com uma regularidade quadrienal, foram realizados seis Congressos Portugueses de Sociologia, promovidos pela Associação Portuguesa de Sociologia (APS). Os dados relativos ao número de comunicações, respectivos autores e número de participantes envolvidos em cada congresso demonstram o exponencial e consistente crescimento da disciplina no nosso país (ver quadro 2). Se o número de participantes duplicou, o número de comunicações entre o primeiro e o último congresso quase octuplicou, evidenciando o aumento de profissionais com formação em sociologia, o desenvolvimento do campo ao nível da investigação e a diversificação dos objectos e temas de pesquisa. A confirmá-lo registe-se o aumento do número de painéis temáticos, de 7 no I Congresso, para 22 no V, ou 21 no VI Congresso.

Quadro 2. Número de participantes, comunicações [1] e respectivos autores/co-autores por Congresso

 Fonte: Associação Portuguesa de Sociologia, Autores/Co-autores[2]

O I Congresso Português de Sociologia (Lisboa, 1988), “A Sociologia e a Sociedade Portuguesa na Viragem do Século”, não integrava nenhum painel dedicado ao género, o que, no entanto, não é indicativo da sua ausência nos trabalhos apresentados. As comunicações que abordavam esta temática incluíam-se, então, no painel dedicado à ‘sociologia da família’, denunciando a fase de prematuridade em que o desenvolvimento desta área de estudos se encontrava (por comparação a outras como, por exemplo, a ‘sociologia da informação’, do ‘conhecimento e da cultura’; ‘sociologia rural e urbana’; ‘sociologia do trabalho e das organizações’[3]). Este congresso ilustra também a tímida emergência dos estudos sobre as mulheres em Portugal, sub-campo de estudos que no contexto nacional não adquiriu a visibilidade alcançada em países como, por exemplo, França. Este facto estará certamente associado à menor expressão dos movimentos feministas no contexto português naquele período temporal. Quanto aos autores das comunicações do painel da ‘sociologia da família’, assinala-se uma distribuição equilibrada entre sexos (50% mulheres, ver quadro 3), o que, dada a menor proporção de mulheres entre o total dos autores das comunicações (44%), indicia já a sua ligeira sobre-representação neste campo de estudos em particular.

O II Congresso Português de Sociologia (Lisboa, 1992), “Estruturas Sociais e Desenvolvimento”, tal como o primeiro, não contava com nenhum painel declaradamente dedicado às questões de género e, mais uma vez, as comunicações em torno desta temática incluem-se essencialmente no painel dedicado à ”Família e Parentesco“, com cerca de 78% de mulheres a protagonizar os trabalhos aqui apresentados. Se tivermos em conta a percentagem de mulheres entre o total de oradores (apenas 42%, ver quadro 5), regista-se neste congresso a sua sobre-representação mais significativa (Δ 36%). Para além da sobre-representação enquanto autoras, as mulheres continuam objecto empírico exclusivo dos trabalhos que problematizam o género. Tendo em consideração as temáticas exploradas pelas comunicações, este congresso ilustra a emergência dos trabalhos científicos dedicados às desigualdades de género em contexto laboral, o que reflecte certamente o enquadramento sócio-económico em que emerge esta área de estudos caracterizado pela progressiva e massiva entrada das mulheres no mercado de trabalho, num país com uma das maiores taxas de emprego feminino da Europa.

O III Congresso Português de Sociologia (Lisboa, 1996), “Práticas e processos da Mudança Social”, representa uma mudança de atitude face à sociologia do género, surgindo esta pela primeira vez, ao lado da família, a encabeçar um painel de comunicações (ver quadro 3), maioritariamente dedicadas à família, suas dinâmicas e mudanças, mas também aos estudos sobre desigualdades de género, identidades de género e o movimento feminista. Como nos congressos anteriores, é evidente a superioridade numérica das mulheres enquanto protagonistas das comunicações deste painel e enquanto objecto preferencial das pesquisas a que estas se reportam (81%, ver quadro 3).

No IV Congresso Português de Sociologia (Coimbra, 2000), “Sociedade Portuguesa: Passados Recentes, Futuros Próximos”, tal como no que lhe precedeu, o género surge mais uma vez ao lado da família num painel temático intitulado “Família, género e trajectos de vida”, com 26 comunicações, na sua maioria escritas por mulheres (74% – ver quadro 3). Ao aumento do número de comunicações corresponde uma diversificação de temas, embora se continue a destacar a continuada articulação do género com a sociologia da família (em temas que tocam a redefinição dos papéis de género na família e a conciliação família-trabalho); o enfoque nas desigualdades de género (em particular as observadas em contexto laboral) e na violência doméstica. Mais uma vez, as masculinidades continuam ausentes enquanto objecto de estudo.

Quanto ao V Congresso Português de Sociologia (Braga, 2004), “Sociedades Contemporâneas – Reflexividade e Acção”, constatamos que o género aparece, pela primeira vez, a encabeçar um painel temático autónomo da sociologia da família, testemunhando assim a atenção que a disciplina começou a dedicar a este campo de estudos. Inédito é também o facto de este painel incluir uma mesa dedicada às masculinidades, indício do recente interesse que o tema suscitou na sociologia nacional e do surgimento dos homens enquanto objecto de estudo, ainda que sistematicamente sub-representados enquanto protagonistas das pesquisas. De resto, os temas abordados mantêm-se, mais ou menos, constantes e são eles: desigualdades entre géneros (especialmente no trabalho), violência doméstica e articulação família-género. Das 22 comunicações que integravam o painel dedicado ao género, cerca de 70% têm a autoria de mulheres (ver quadro 3).

O VI Congresso Português de Sociologia (Lisboa, 2008), “Mundos Sociais: saberes e práticas”, volta a agregar num mesmo painel temático “Família e Género”. Apesar do retorno à organização conjunta das temáticas, o número de comunicações aumentou substancialmente (de 47 – dedicadas ao género e família – em 2004, para 59 comunicações em 2008), confirmando o aumento dos trabalhos em torno dos respectivos objectos de análise. As mulheres continuam a ser as responsáveis pela maior parte da autoria das comunicações apresentadas (cerca de 82%, quadro 4), confirmando-se a gendrificação dos objectos de estudo eleitos pelos profissionais portugueses (Cunha, 2008). Os objectos de estudo diversificam-se, mantendo-se a incidência sobre temas como a violência nas relações de género e as desigualdades no mercado de trabalho. A novidade surge na articulação entre género e velhice, ou, género, família e saúde – temáticas que se destacam pelo elevado número de comunicações. Estes novos objectos acompanham as transformações demográficas que caracterizam o país, como é o caso do acelerado envelhecimento da população, do aumento da longevidade, e das políticas sociais que lhes são direccionadas.

Quadro 3. Total de comunicações incluídas em painéis temáticos dedicadas ao género e/ou família [4]

Fonte: Associação Portuguesa de Sociologia.

Quanto à sociologia do género, tal como se verificou nos I e II Congressos, os trabalhos que se podem agrupar sob esta denominação aparecem inicialmente distribuídos pelos painéis dedicados à sociologia da família, denunciando a articulação que recorrentemente se faz entre as temáticas e o estado embrionário em que este campo de estudos se encontrava. Apenas a partir de 1996 a sociologia do género ganha visibilidade (no V e VI congresso é já uma das temáticas mais expressivas) e alguma autonomia analítica, surgindo já anunciada nos painéis temáticos, ainda que, muitas vezes, partilhando o espaço com a sociologia da família. Coincidentemente, é também a partir desta data que, no total das comunicações, o número de mulheres ultrapassa o número de homens a apresentar comunicações, reforçando a hipótese da associação entre a crescente representação das mulheres na comunidade científica e a intensificação do debate acerca das diferenças e desigualdades entre os géneros. No mesmo sentido, verifica-se que a maior parte das comunicações que constituem estes painéis (temáticas tradicionalmente associadas ao universo feminino) contam sobretudo com mulheres enquanto autoras e, simultaneamente, como seu objecto de estudo preferencial, indicando mais uma vez a divisão sexual da investigação sociológica.

Relativamente às temáticas mais trabalhadas no âmbito da sociologia do género, visíveis nas comunicações apresentadas, destacam-se: a) a articulação entre género e família, lugar por excelência de redefinição e negociação dos papéis de género; b) as desigualdades entre géneros, particularmente aquelas que se produzem em contexto laboral, reflexo da massiva entrada das mulheres no mercado de trabalho e consequente complexificação das relações entre homens e mulheres nestes contextos; c) as questões relacionadas com a produção da violência nas relações de género.

Quando os homens são constituídos como objecto de estudo, a produção das identidades de género e a parentalidade passam a ser o foco das atenções dos trabalhos apresentados, sendo que apenas a partir do V Congresso (2004) se apresentam as primeiras pesquisas sobre masculinidades. O reconhecimento e contestação social da desigualdade de direitos entre homens e mulheres, bem como o surgimento de instituições públicas para fazer face a esse problema social, estarão relacionados com as temáticas que a sociologia do género mais tem estudado e a duradoura ausência dos homens e das masculinidades enquanto objecto de estudo.

Sociologia: uma disciplina genderizada?

O género é também, como se tem vindo a constatar, um elemento estruturador do campo académico da sociologia no que se refere a afiliações institucionais, à cobertura (geográfica) dos estudos e especialmente às temáticas abordadas. Além disso, a visibilidade e o reconhecimento dos pares é também estruturado pelo género, o que pode ser verificado nos Congressos Portugueses de Sociologia, na composição do corpo de sócios e na participação dos diferentes órgãos e painéis da Associação Portuguesa de Sociologia, e nos doutoramentos.

a) A autoria genderizada dos doutoramentos em Sociologia

A distribuição dos doutoramentos (concluídos e em curso) pelos homens e mulheres é muito equilibrada, com 50,4% de homens e 49,6% de mulheres. Contudo, a distinção entre os doutoramentos concluídos e os doutoramentos em curso, permite verificar que a ligeira tendência para a sobre-representação de homens no conjunto dos doutoramentos concluídos é invertida no caso dos doutoramentos em curso, resultado do constante aumento das mulheres no ensino superior em geral. Machado refere esta “feminização da profissão”, que transcendendo o caso da sociologia e referindo-se à mais abrangente “feminização das profissões intelectuais e científicas”, está acima da média no caso do campo sociológico (1996: 68).

 

Quadro 4. Doutorandos e Doutorados por sexo (percentagem), 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

 

Embora os dados pareçam indicar um equilíbrio numérico entre homens e mulheres, na verdade, com a sobre-representação das mulheres no ensino superior e em especial nas ciências sociais, seria de esperar uma presença mais expressiva das mulheres entre os grupos dos doutorandos, o que revela ainda uma sub-representação relativa das mulheres. Este aspecto será aliás reafirmado pela composição sexual dos/as orientadores/as de teses de doutoramento em sociologia (ver figura seguinte).

Figura 5. Número de orientadores de doutoramentos, por sexo dos orientadores, 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

Apesar da discrepância entre homens e mulheres no número de doutoramentos não parecer significativa, este aparente equilíbrio esconde uma real sub-representação das mulheres no sistema de ensino superior, como orientadoras de projectos de doutoramento. Assim, apenas 23% das teses de doutoramento do universo considerado contaram ou estão a contar com orientação de uma mulher. Assim sendo, o equilíbrio numérico entre homens e mulheres doutoradas não se reflecte numa evolução na carreira académica e/ou docente no campo da Sociologia. O crescimento do número de mulheres doutorandas não é proporcional ao crescimento de mulheres no corpo dos orientadores de teses de doutoramento (que por sua vez seria indicador de carreiras académicas e docentes mais consolidadas).

Metade dos projectos de doutoramento desenvolvidos por sociólogos/as portuguesas/as são realizados tendo como referência todo o território português. Em 23% dos casos, a cobertura refere-se a uma região específica de Portugal, e apenas em 13% dos casos a cobertura é de natureza internacional[5]. O facto do peso relativo dos projectos comparativos ter triplicado e a emergência da importância dos estudos de âmbito europeu são, nesta matéria, os aspectos mais importantes a destacar. Mas estas tendências também são estruturadas pelo género. Os homens, mais do que as mulheres, têm tendência para desenvolver pesquisas numa escala Europeia, enquanto as mulheres têm uma maior tendência do que os homens para desenvolver pesquisas numa escala nacional (tendência que tem vindo a decrescer no caso dos homens).

Figura 6. Percentagem de Doutoramentos em curso e concluídos, por cobertura da pesquisa, 1975-2005

Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior.

b) Papéis diferenciados de associativismo e visibilidade pública

Atendendo à autoria das comunicações e tendo em conta o sexo dos intervenientes, podemos verificar que as mulheres representam no último Congresso (62,6%), realizado em 2008, e desde 1996, a maior parte (55,3%) dos profissionais envolvidos na concretização do evento (ver quadro 5). Estes valores encontram eco na proporção de sócios da APS, entidade responsável pela organização do evento, onde a superioridade numérica das mulheres é evidente e constante desde 1992 (56% dos sócios em 1992 e 68% em 2004). Saliente-se, no entanto, que as actividades que remetem directamente para a promoção e visibilidade pública dos profissionais de sociologia, como a apresentação de comunicações, parecem oferecer mais resistência ao protagonismo feminino do que o associativismo. A confirmá-lo repare-se que a sobre-representação das mulheres entre os associados apenas se reflectirá nas comunicações 4 anos mais tarde, ficando esta última proporção sistematicamente aquém da encontrada entre os sócios da APS.

Quadro 5. Número de sócios da APS, comunicações, respectivos autores/co-autores e composição do Conselho de Programa, por congresso e sexo fusion_one_page_text_link link=”#_ftn6″ class=”” id=”_ftn6_home”][6][/fusion_one_page_text_link]

Fonte: Associação Portuguesa de Sociologia, Sócios APS [7]

Se atendermos à constituição dos órgãos da APS e, especialmente, dos Conselhos de Programa, as regularidades anteriormente assinaladas não têm paralelo, invertendo-se inclusive o seu sentido. Até à actualidade a APS já foi presidida por seis sociólogos, contando-se entre eles duas mulheres (ver quadro 6). Se analisarmos a constituição dos órgãos da associação verificamos que a proporção de mulheres é invariavelmente inferior à dos homens (36% em 2006-2008), o que, face ao total de sócios do sexo feminino (68% em 2004), ou oradoras das comunicações (62,6% em 2008), representa um grave défice de representatividade ao nível dos cargos que implicam a gestão e tomadas de decisão na APS. Relativamente à composição do Conselho de Programa (ver quadro 6), o desfasamento entre homens e mulheres é ainda maior. Apesar do ligeiro, embora não linear, aumento da participação de mulheres neste Conselho, essa proporção (25% em 2008) continua claramente diminuta face ao seu contributo enquanto autoras das comunicações que constituem as agendas dos diferentes congressos.

Quadro 6. Caracterização dos órgãos sociais da APS: Presidente, total de membros e percentagem de mulheres


Fonte: Associação Portuguesa de Sociologia.

Os dados apresentados apontam para algumas disparidades, especialmente uma grande discrepância entre a proporção de homens e mulheres na estrutura da APS. Atendendo ao perfil dos diplomados nas áreas das ciências sociais, a superioridade numérica das mulheres deveria ser visível quer entre os sócios da associação, quer entre os seus dirigentes. Paralelamente, a informação acerca dos projectos de doutoramento em curso ou concluídos revela que o número de mulheres a orientar teses é bastante inferior, apesar de serem elas que mais as fazem. Estes dados parecem revelar, portanto, a existência de mecanismos que dificultam o prosseguimento de estudos pós-graduados por parte das mulheres, uma vez que, apesar da maior proporção de mulheres com formação em sociologia, são, ainda hoje, os homens a protagonizar os percursos mais qualificados e as carreiras mais prestigiantes, Ruivo (1986; Amâncio e Ávila (1995); Santos (2000) e Araújo (2008).

Para além dos constrangimentos enunciados, importa não menosprezar factores relacionados com os próprios marcadores temporais que as trajectórias académicas/profissionais, mais bem sucedidas, implicam. A tardia entrada das mulheres no campo disciplinar da sociologia também contribui, certamente, para explicar a sua actual sub-representação nos cargos mais honoríficos (como o Conselho de Programa), pois as trajectórias individuais que protagonizam não são, na maioria, tão alongadas quanto a dos homens, e, logo, não atingiram os lugares de destaque por eles alcançados. Por outro lado, à medida que as sociólogas atingem os patamares mais elevados das carreiras científicas, confrontam-se com a lotação de muitos dos cargos estratégicos no reconhecimento sócio-profissional.

 

Sociologia e género: breves biografias profissionais

Se numa análise macro-social da investigação sociológica portuguesa o género é fundamental para a compreensão dos seus principais desenvolvimentos, é igualmente importante observar como é que estas tendências globais se reflectem nas carreiras de investigação. Centrando a análise nas trajectórias profissionais de três sociólogas portuguesas, reconhecidas pela sua pesquisa sistemática sobre género, especialmente no que diz respeito à análise da posição das mulheres no mercado de trabalho, podemos verificar que estas trajectórias são ilustrativas daquilo que podemos designar como uma combinação sobre-representada, mas internamente heterogénea: estudos de género desenvolvidos por mulheres. Esta análise permite demonstrar a diversidade e complementaridade das distintas abordagens de género, assim como os seus efeitos nas trajectórias profissionais. Para o efeito, tomou-se como exemplo os percursos profissionais de Virgínia Ferreira, Maria das Dores Guerreiro e Anália Torres[8].

Antes da exposição e análise dos produtos da investigação sociológica realizada por Anália Torres, Maria das Dores Guerreiro e Virgínia Ferreira, algumas considerações em torno dos conceitos de sexo e de género são relevantes. Esta necessidade surge por dois motivos essenciais. Por um lado, perceber esta dicotomia (sexo e género) e começar por centrar a análise nos conceitos é fundamental para perceber eventuais diferenças nas abordagens ao tema, e ilustrar o quadro da produção sociológica neste domínio em Portugal. Por outro lado, as entrevistas realizadas e a análise dos produtos de investigação permitiu demonstrar ser este um importante elemento diferenciador das abordagens que serão expostas.

Um dos pilares da teoria social edificou-se na distinção entre os conceitos de sexo e de género, em específico, na rejeição do primeiro enquanto elemento explicativo das diferentes atribuições sociais de mulheres e de homens. Definições clássicas, tendencialmente consensuais, atribuem ao conceito de género as características socialmente construídas que distinguem mulheres de homens, que se constituem como expectativas sociais ou comportamentos esperados com base nos conceitos de feminilidade e masculinidade, e como formas de estar e de agir socialmente aprendidas. O sexo, num outro sentido, surge associado às diferenças biológicas, físicas, anatómicas, que distinguem mulheres e homens. Seria da competência das ciências sociais o estudo do género e a consideração exclusiva deste conceito para explicar os diferentes papéis, estatutos e posições de mulheres e homens na sociedade (a este propósito ver Cunha, 2010).

Em cada uma das entrevistas realizadas a dicotomia entre sexo e género surgiu como um elemento central para a compreensão da produção científica nacional neste domínio. A introdução dos estudos de género em Portugal deu-se, em grande medida, num contexto de disseminação, com maior expressão no início dos anos 70, da abordagem anglo-saxónica dos gender studies, desenvolvida em paralelo com a abordagem de origem francesa dos rapports sociaux du sexe.

Quando identifica um dos seus principais contributos para o estudo do género em Portugal, Anália Torres refere a centralidade que deu a este conceito na abordagem da intimidade e da conjugalidade. Nos seus trabalhos de referência sobre divórcio e casamento (Torres, 1996, 2001, 2002), a autora coloca o género como elemento fundamental para a análise, dando-lhe também especial relevância, mais tarde, na operacionalização do género na relação entre trabalho pago e não pago (Torres, 2004b).

No mesmo sentido, Maria das Dores Guerreiro evidencia o conceito de género como fundamental para a compreensão da posição de mulheres e homens na esfera do trabalho e na família, defendendo que os diferentes papéis de mulheres e homens nestes dois planos se devem mais às construções sociais instituídas em torno da feminilidade e da masculinidade, do que às diferenças de sexo que caracterizam mulheres e homens (Guerreiro, 1996, 1998, 2007). A perspectiva de Virgínia Ferreira, por outro lado, interroga a separação integral das dimensões biológica e social na distinção de mulheres e homens. Virgínia Ferreira afirma que a sua tentativa de articulação das duas dimensões se mostrou desafiante, sendo que a aprendizagem sociológica a levou a entendê-las separadamente. No entanto, a seu ver, as diferenças entre mulheres e homens não são nem exclusivamente biológicas, nem exclusivamente culturais. Resultam, antes, de uma “diferença de experiência subjectiva do corpo” (Ferreira, 2004: 1029), e embora se reconheça a importância do carácter social na vivência do corpo, este é regido por directivas biológicas. Assim, a produção sociológica desta autora aponta para um entendimento das diferenças entre mulheres e homens numa dimensão biossocial (Ferreira, 1981, 1988, 2004).

Esta posição diferenciada face aos conceitos conduz a que se depreendam duas abordagens específicas no que toca à análise sociológica portuguesa do género. Uma, procura neutralizar as regras biológicas e as diferenças entre mulheres e homens, cingindo-se às determinações sociais para explicar o papel diferenciado que umas e outros assumem na sociedade. Outra, procura destacar as determinações biológicas para compreender as diferentes posições de homens e mulheres na sociedade, abrindo espaço a que seja pela valorização, e não pela omissão do biológico, que se atinja a igualdade de género.

Quando se analisam os percursos académicos destas três protagonistas dos estudos sociológicos portugueses sobre género, podem identificar-se dois elementos diferenciadores a considerar. O primeiro aponta para desiguais percursos no tempo e no espaço. O segundo diz respeito a origens temáticas distintas e a meios específicos de entrada no tema.

Maria das Dores Guerreiro foi a primeira a doutorar-se, em Sociologia, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) em 1995. Tendo-se licenciado em 1981, fez Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica (PAPCC) no mesmo ano em que Virgínia Ferreira o fez, em 1986. O seu trabalho final de licenciatura, que terminou em 1981, inscreveu-se no domínio temático da sociologia do trabalho, com um estudo sobre sistemas de trabalho e identidades culturais operárias, realizado numa unidade fabril. No âmbito das PAPCC, apresentou um estudo sobre mulheres residentes em Alfama. No doutoramento defendeu uma tese sobre as famílias na actividade empresarial. É docente do ISCTE e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), tendo sido fundadora e integrado a primeira direcção da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres.

Anália Torres doutorou-se em 2001, no ISCTE, fazendo na sua tese uma análise sociológica do casamento em Portugal. Antes disso, havia já trabalhado o divórcio em Portugal, tendo apresentado PAPCC em 1990, com um trabalho sobre o ensino da disciplina de Metodologia das Ciências Sociais. Terminou a licenciatura em 1985, tendo feito todo o seu percurso académico em Sociologia no ISCTE. É docente do ISCTE e investigadora do CIES. Foi fundadora e coordenadora da sessão temática Família, Género e Sexualidade no âmbito da Associação Portuguesa de Sociologia, que organizou uma série de seminários e workshops em torno destes temas a nível nacional. Em 2002 organizou um colóquio internacional, no ISCTE, sobre a mesma designação Família, Género e Sexualidades. Criou também a primeira disciplina sobre sociologia do género em Portugal (intitulada Sociologia do Género e unidade curricular obrigatória no âmbito do Mestrado Família e Sociedade do ISCTE). O seu percurso profissional é ainda marcado por uma forte presença associativa, tendo sido, como referido, presidente da Associação Portuguesa de Sociologia (dois mandatos), e sendo actualmente (2011) presidente da European Sociological Association.

Virgínia Ferreira foi a primeira a licenciar-se, tendo concluído a licenciatura em Sociologia em 1976, no Instituto de Estudos Sociais e Económicos da Universidade de Évora. Apresentou as PAPCC, também em Sociologia, mas na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, dando-se, nesta fase, uma mudança institucional importante no seu percurso académico. Apesar de ter iniciado o seu projecto de doutoramento em 1988/89, concluiu-o em 2004, também na Universidade de Coimbra, com uma tese sobre a feminização dos escritórios em Portugal. É docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES), tendo sido presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres.

Os caminhos privilegiados de entrada neste tema foram, de caso para caso, descoincidentes. Maria das Dores Guerreiro (MDG) começou a trabalhar as questões do género de forma sistemática a partir da sua tese de doutoramento, embora já as tivesse trabalhado, de forma independente, noutros estudos sobre trabalho e organizações, e sobre mulheres de meios populares. O estudo sobre a actividade empresarial familiar veio introduzir o género na análise das relações laborais e nas lógicas de organização empresarial, sobretudo, através da percepção da centralidade do género (em específico, do papel das mulheres) na estruturação empresarial e familiar. Anália Torres (AT) iniciou os seus estudos sobre género também a partir dos seus estudos inaugurais, onde, através da análise tanto do divórcio, como do casamento, relevou a importância do trabalho na organização familiar e relacional, com especial atenção à inserção profissional feminina e aos duplos impactos desta inserção, na esfera do trabalho e da família. Virgínia Ferreira (VF) deu início aos seus estudos neste domínio também no início do seu percurso académico. A análise da relação entre o trabalho e a posição de mulheres e homens nesta esfera decorreu dos seus estudos iniciais sobre as inserções profissionais femininas, e padrões de segregação sexual do mercado de trabalho e sistema de emprego.

Embora numa relação muito mais complexa do que aquela que aqui se apresenta podem ser identificados três caminhos singulares de entrada no tema, com dois campos temáticos inaugurais diferenciados: a empresa, no caso de MDG, a família e a conjugalidade, no caso de AT e a divisão sexual do trabalho, no caso de VF. Do mesmo modo, deve ser relevado um aspecto unificador dos percursos: em todos os caminhos que levaram à entrada do género nos interesses de investigação de cada investigadora, se observa um enfoque na divisão sexual do trabalho. A priorização dos objectos (teóricos e empíricos) aparece aqui como principal elemento distintivo.

Figura 7. Domínios temáticos de introdução ao estudo do género

Na análise da evolução destes temas de investigação no trabalho destas sociólogas verificam-se igualmente diferentes enfoques analíticos para uma mesma temática.

No trabalho de VF podemos identificar um primeiro grupo de estudos centrados sobretudo na problemática da tecnologia, competência e formação. É neste grupo de estudos que pode ser incluída a sua tese de doutoramento. No mesmo sentido, grande parte da sua produção científica incide sobre as dinâmicas de emprego e de segregação do mercado de trabalho. Os estudos sobre as mulheres, maternidade e reprodução constituem também um bloco de estudos importante na sua trajectória profissional, sendo um marco distintivo na sua carreira. Uma das características da abordagem de VF é a solidificação das mulheres enquanto unidade social e a harmonização dos elementos culturais e sociais na construção das suas identidades. Esta abordagem pode ser identificada na sua produção científica e consiste na aproximação às características biológicas das mulheres. É possível encontrar no seu trabalho referências ao corpo feminino, à gravidez, maternidade, menstruação. Um último grupo de estudos de VF relaciona-se com a integração portuguesa no contexto global e com os impactos da globalização especificamente nas políticas de igualdade de género.

A análise do percurso profissional de MDG permite identificar diferenças consideráveis no estudo do género e orientações de pesquisa também distintas. Um primeiro grupo temático centra-se no género através do estudo da conciliação entre trabalho e família. Neste grupo de estudos podem ser encontrados temas específicos como a conciliação entre trabalho e família, o papel dos homens e das mulheres nestas esferas, e os seus impactos a nível macro e micro social. O segundo grupo temático foca o género do ponto de vista específico da organização do trabalho, nomeadamente no que diz respeito a ocupações profissionais genderizadas na prestação de serviços às famílias e a políticas públicas e empresariais de promoção da igualdade, designadamente em contexto de trabalho. Dois outros grupos de estudos de âmbito europeu incluem, por um lado, pesquisa sobre a transição para a parentalidade e para a vida activa, evidenciando formas genderizadas de transição e, por outro, investigação sobre a qualidade de vida e os seus determinantes de género.

Por fim, na carreira académica de AT, encontram-se também diferentes grupos de estudos e formas específicas de análise do género na investigação sociológica. Um primeiro grupo de estudos analisa o conceito na perspectiva das conjugalidades, intimidades, rupturas, sentimento amoroso. Um outro sub-domínio temático diz respeito à divisão sexual e familiar do trabalho, colocando o enfoque no trabalho pago e não pago e na sua associação não apenas com disparidades de género, mas também com a classe social, as qualificações e os valores. Em paralelo, encontra-se também um grupo de estudos sobre conciliação entre trabalho e família, sobretudo no que diz respeito ao cuidado de crianças, mas também numa perspectiva da dinâmica conjugal. Um último grupo de estudos situa-se ao nível das políticas públicas a um nível mais global, concretizando-se sobretudo pelo desenvolvimento de estudos comparativos europeus.

Há, de facto, grande tenuidade na separação destes campos temáticos na medida em que todos eles resultam de um campo sociológico comum. É, no entanto, importante evidenciar que por detrás desta lente de género unificadora pode ser encontrada considerável diversidade temática.

Figura 8. Sub-domínios temáticos no estudo do género

Notas conclusivas

Pode afirmar-se, com base nos dados apresentados, que a evolução do campo da sociologia do género em Portugal acompanhou a crescente visibilidade da temática nas agendas política e pública. Tem-se assistido, nos últimos anos, a um acentuado crescimento do número de projectos de investigação cuja problemática principal abarca as questões de género e também de estudos, que apesar de não terem no género o objecto de estudo principal, incluem a perspectiva de género nas suas análises. Para além do crescimento, um olhar retrospectivo permite também acompanhar as mudanças na configuração deste campo de estudos. Uma das mais significativas e recente remete para a emergência das masculinidades enquanto objecto de estudo, deixando assim a sociologia do género de poder ser equacionada como o estudo exclusivo sobre mulheres e desigualdades de género.

Quanto à composição sexual do campo da investigação e produção sociológica em Portugal, identifica-se uma clara predominância de mulheres. Fica assim evidente que a actividade científica, como qualquer outra área ocupacional, é estruturada pela variável género. Pode-se também verificar que a posição das mulheres sociólogas no mercado de trabalho acompanha de alguma forma as tendências que se observam na generalidade das áreas, com mais homens que mulheres a ocupar os cargos de maior responsabilidade. Neste caso em particular, a posição das mulheres na academia consolidou-se tardiamente, o que ajuda a explicar por que há mais homens nos lugares de maior prestígio, quando são elas que estão sobre-representadas entre os licenciados e os associados da Associação Portuguesa de Sociologia.

Sendo a Sociologia uma disciplina recente em Portugal, e tendo as mulheres um peso significativo entre os estudantes e investigadores, são esperadas algumas mudanças estruturais para o futuro, apesar de não ser possível definir o espaço de tempo necessário para a mudança.

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[1] Contabilizaram-se as comunicações que constituíam os painéis temáticos e excluíram-se da análise as sessões plenárias.

[2] Contabilizaram-se todos os autores (ou co-autores) das comunicações apresentadas, repetindo-se cada indivíduo sempre que associado a mais que uma comunicação.

[3] Linhas temáticas que no 1º Congresso reuniam o maior número de comunicações.

[4] Dada a organização das temáticas optou-se por contabilizar quer as comunicações incluídas nos painéis dedicados ao género, quer nos painéis dedicadas à família, uma vez que, muitas vezes, é neste último painel que as comunicações que se debruçam sobre problemáticas do género se incluem.

[5] Os dados seguintes referem-se a apenas metade do universo considerado, por não ter sido possível codificar as teses de doutoramento por cobertura do estudo nos restantes casos.

[6] Os dados relativos ao número de autores e comunicações dos I, II e III Congressos têm como base o trabalho de Cristina Lobo (1996); os restantes dados resultam da consulta das respectivas actas disponíveis online no site da APS (a excepção refere-se aos dados relativos ao VI Congresso, obtidos na publicação disponibilizada pela APS aos participantes do respectivo evento). Os dados acerca da constituição dos Conselhos de Programa e número de participantes por Congresso foram disponibilizados pela APS.

[7] Fonte: APS. Disponível em: http: // www.aps.pt/? Area=001*marea=001*sarea=004 (19/01/2007).

[8] Sendo, no entanto, importante sublinhar que esta escolha negligencia contributos fundamentais de outras cientistas sociais portuguesas com produção científica essencial na área do género, como Lígia Amâncio, Ana Nunes de Almeida, Karin Wall e, mais recentemente, Sara Falcão Casaca.

Autores: Margarida Barroso, Magda Nico e Elisabete Rodrigues